REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE
Voto do Parlamento Nacional n.º 4 /2015
De pesar pelo falecimento de Dom Alberto Ricardo da Silva
Vítima de doença prolongada, faleceu, a 2 de abril de 2015, Sua Excelência Reverendíssima o Bispo Dom Alberto Ricardo da Silva, figura proeminente da autoridade eclesiástica de Timor-Leste.
Nascido em Aileu a 24 de abril de 1943, estudou no Seminário Maior de Macau e em seminários portugueses, nomeadamente no Seminário Maior de Évora e no de Leiria-Fátima. Formou-se, com o grau de licenciatura, em Teologia Espiritual, pela Pontifícia Universidade Gregoriana, sedeada em Roma. Foi sucessivamente, de entre outros cargos detidos na estrutura da Igreja Católica, vice-pároco em Ossú, diretor espiritual no Seminário de Nossa Senhora de Fátima, em Dare, pároco em duas paróquias, uma das quais a de Motael, e Vigário-Geral de Díli. Ocupou ainda o cargo de Reitor no Seminário de Nossa Senhora de Fátima, ainda durante a década de 90, e no Seminário Maior de São Pedro e São Paulo, este situado em Díli, a partir de 2000. Para além disso, participou em encontros promovidos pela Plataforma de Bispos Lusófonos.
Foi ordenado Padre em 1972 e Bispo em 2004. No mesmo ano, sucedeu, na Diocese de Díli, a Dom Basílio do Nascimento, Bispo da Diocese de Baucau, tendo sido indicado à Santa Sé, sem hesitações, como o clérigo melhor posicionado para o governo diocesano da capital do País. Veio a demonstrar-se ter sido escolha acertada para o cargo, tão marcante foi a influência positiva da sua ação pastoral junto das pessoas, particularmente as mais pobres e desfavorecidas, a quem estendia a sua mão amiga e prestava auxílio constante.
Já com a saúde muito debilitada, pediu a resignação em Fevereiro de 2015, que lhe foi concedida pelo Papa Francisco, tornando-o Bispo Emérito de Díli.
Desempenhou papel ativo, durante a ocupação indonésia, na luta contra a opressão do invasor e na defesa da população amedrontada, perseguida e atacada, cabendo destacar o especial apoio que deu ao grupo de jovens lutadores Lorico Asuwain. Neste período, foi interrogado pelos militares indonésios na sequência do massacre do Cemitério de Santa Cruz, tendo chegado a admitir, nessa ocasião, que “estava decidido a morrer”.
Após a restauração da independência, deu continuidade à difusão da doutrina cristã, que se revelara antes ter sido essencial ao objetivo nacional da autodeterminação e independência.
Dom Alberto Ricardo da Silva foi sempre um prelado amado e acarinhado pelo Povo, que serviu com extrema entrega e dedicação. A expressão do seu olhar, permanentemente bondosa, irradiava humildade, ternura e incomensurável amor pelo próximo. As caraterísticas do seu caráter e personalidade, moldadas pelo seu profundo humanismo e apego aos princípios católicos, tornaram-no um mensageiro natural da palavra de Deus na Terra, que transmitia com fervor e entusiasmo, reconhecendo-se-lhe também a sua preocupação com a criação de sólidos alicerces para uma educação de qualidade, em cujo setor prestou valiosos contributos.
A Igreja Católica e a cristandade timorense estão de luto. O povo timorense chora a perda do seu Bispo Emérito, cuja memória permanecerá presente no seu espírito. Todos sentimos ainda, a pairar nos céus de Timor-Leste, a espiritualidade da sua passagem terrena.
Nesta hora de consternação, o Parlamento Nacional entende dever exprimir o seu profundo pesar e dirigir as suas condolências à família enlutada, assim como prestar sentida homenagem póstuma ao seu querido prelado, associando-se à dor que perpassa nos corações dos clérigos timorenses, da Igreja e do povo da sua terra sagrada.
Descansa na paz do Senhor, Dom Alberto Ricardo da Silva!
Aprovado em 6 de Abril de 2015.
Publique-se.
O Presidente do Parlamento Nacional,
Vicente da Silva Guterres